terça-feira, 8 de setembro de 2015

A tua frescura

Dei por mim no conforto do meu jardim, rodiada pelas plantas que tão bem conhecia, deitada na relva fresca que me confortava.  Sim, a relva confortava-me, tomou o teu lugar. Noutros tempos costumavas ser tu a confortar-me e eu não trocaria o conforto dos teus braços por nada deste mundo. Mas tu escolheste partir, e partiste. E no teu egoísmo não partiste sozinho, levaste contigo uma parte de mim e eu dei por mim incompleta.
E aqui estou eu, deitada na relva, ingenuamente, à procura da tal parte de mim que me roubaste.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

É noite.


É noite. 
E eu estou cá fora ao relento com a esperança que a leve brisa me seque as lágrimas. É mais fácil chorar à noite, é mais fácil ser eu mesma quando ninguém me observa e quando ninguém espera nada de mim.
Está frio, estou fria. Na realidade, sou fria. A vida assim me fez e no fundo, eu não quero mudar.
As pessoas frias não sentem, mas eu sinto, sinto de mais até. As pessoas frias não se importam, não querem saber dos outros, e eu preocupo-me mais com os outros do que comigo mesma. As pessoas frias não dependem de ninguém e eu dependo de ti. Talvez não seja assim tão fria quanto pretendo, mas quero mesmo ser, e serei.
Quero viver uma vida sem depender dos outros, se me preocupar e sem sentir. Sim, não sentir nada seria o ideal. Não sentir a dor que os outros me provocam, não sentir a dor que provoco a mim mesma.
As minhas lágrimas cessaram e a brisa já as secou mas por dentro elas ainda não se cansaram correm com euforia. Eu choro muito, não sei bem porquê, mas qualquer coisa é razão para me ir a baixo, para deitar cá para fora o que já não cabe por dentro.
O som da noite é belo, ouço os grilos a cantar e outros insectos que não consigo decifrar, o comboio ao longe, e consigo escutar também os carros a passarem na nacional. Por vezes um cão ladra, ou um gato mia, mas já é demasiado tarde para se ouvirem pessoas a conversar ou crianças a gritar como acontece durante o dia. A noite é tão mais bela. O próprio céu é tão mais belo à noite. Quem me dera ser noctívaga. À noite não preciso de fingir ser alguém que não sou apenas para que os outros me aceitem, à noite não preciso de fingir que sou feliz, à noite não preciso de seguir todas as regras que a sociedade me impinge.
À noite eu posso ser eu mesma.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Vida

Por vezes pomos em causa o significado daquilo a que chamamos de vida.

Vulgarmente podemos encontrar definições variadas para esta palavra, uns definem-na como "o período de tempo que decorre desde o nascimento até à morte de um ser" mas assim sendo teríamos que encontrar uma definição para a morte, e dado que a consideramos como um termo, um fim, não será possível estar-se morto durante a vida? Com isto quero dizer que por vezes, nós achamos um termo para a nossa vida, e tudo aquilo que outrora fazia sentido, deixa de ter qualquer significado.
Nunca se perguntaram a vocês mesmos se estavam vivos ou mortos? Nunca sentiram que já não havia sentimentos quaisquer que vos preenchessem? Nunca deixaram de sentir o vosso coração bater? Nunca necessitaram de um banho de água gelada que vos relembrasse que vocês estavam vivos? Ou pior, nunca precisaram de infringir dor em vocês mesmos para se relembrarem que ainda havia uma réstia de vida em vós, sendo a dor uma das condições da vida? Nunca precisaram de trazer cá para fora o vosso sangue para relembrarem que ele ainda corre nas vossas veias?
Quanto a vocês não sei, mas no meu caso, a todas as perguntas eu responderia com um simples, seco e humilde "sim".
Tantas vezes desejei estar viva, tantas vezes desejei estar morta. Tantas vezes recorri a medidas drásticas em busca da vida, tantas vezes recorri a medidas drásticas em busca da morte. E no final de tudo, apercebi-me de que as medidas não eram assim tão diferentes quanto isso. Assemelhavam-se bastante. 
Comecei então a pensar se não estaria eu em busca de algo impossível, em busca de algo que nem eu mesma compreendia e parei. Achei que talvez descobrir se estava viva ou morta fosse a melhor decisão. E depois de tanto tempo continuo sem saber se estou do lado dos vivos, ou dos mortos.
Com tudo isto deixo-vos apenas uma questão. 
Têm a certeza que todos os que vos rodeiam estão vivos?

sábado, 1 de agosto de 2015

Amor

Amor. Todos falam dele. Todos o desejam como se vivessem dele, como se ele fosse um droga no qual se tinham viciado. Mas porquê?
Será que ainda não perceberam que o amor é uma ilusão? O amor é uma felicidade temporária. É um cigarro que te satisfaz por breves momentos mas que acaba por te dar um cancro. Será que vale a pena? Será que a felicidade vivida no amor compensa toda a dor que este trás por acréscimo? 
Talvez vocês estejam tão viciados que não consigam ver a realidade. 
Talvez uns se viciem em drogas, em auto-mutilação, eu comida ou em simplesmente não comer, e outros, talvez até tu, se viciem no amor. 
Continuo na dúvida, porque viciar em algo tão perigoso? Há tantos perigos por aí, tantas formas de dor e tu foste logo escolher o amor. O amor é o pior dos vícios, porque desencadeia outros. Quando perdem o amor, as pessoas arranjam outros vícios, substituem-no pelo álcool, pelo tabaco, pela comida, por alguma coisa que lhes preencha o vazio que o amor deixou. 
O amor é isso, é a maior felicidade que podes ter. É sentires-te a pessoa mais feliz do mundo e esqueceres-te que tudo o que é bom acaba depressa. E perdes. O amor é perder. O amor é dor. O amor é o maior poder dos homens. Sim, porque o amor dá-te poder, muito poder. Dá-te o poder de tirar a felicidade alguém. Também ta poderia dar, mas já ninguém dá nada a ninguém neste mundo. 
Então pensa antes de cair nas garras do amor, pensa se vale a pena toda a dor porque vais passar apenas por breves momentos de felicidade temporária, e se a resposta for sim, tu és, oficialmente, um coração partido. 

Cartas não enviadas.

Porquê? Porque me fazes isto? Eu sei que estás tão perdida quanto eu, mas talvez nos pudéssemos ajudar mutuamente a encontrar um caminho.
Não te quero obrigar a nada, não te quero pressionar, sei bem o quão aprecias o teu espaço, o quão gostas de te afastar algum tempo, mas fazê-lo assim? Partir sem avisar, sem deixar uma única mensagem, um aviso, qualquer coisa? Não sabes o quanto dói estar sem ti. És das pessoas que mais amo neste mundo e deixas-me assim?
Eu sei que estou a ser muito egoísta mas eu não te estou a obrigar a nada, não te estou a obrigar a partilhar os teus sentimentos, a dizer-me o que te vai na alma, a partilhar o mais íntimo de ti, sabes que podes fazê-lo mas não te obrigo. Apenas queria um aviso, algo que dissesse que te lembraste de mim antes de partir. Algo que me lembrasse que me amas. Mas não, isso são apenas sonhos meus. 
Deixaste-me e eu sei que vais voltar e fingir que nunca partiste, vais agir como se todas as noites que passei a chorar por não saber de ti não existissem. Vais voltar e vais-me dizer que não vales nada. Porque tu sabes, basta proferires um único insulto para contigo mesma e a minha armadura desaparece, o meu ódio e a minha raiva transformam-se em amor, em compaixão. E eu passo de irada a amiga, tudo aquilo que te ia gritar transforma-se em palavras de conforto e carinho e de negação perante os defeitos que apontas a ti mesma. Sabes que tens esse efeito em mim, tu transformas-me e mais ninguém entende isso. 
Eu quero tanto mostrar-te a minha raiva, quero dizer-te o quanto me magoas, mas quando voltas eu esqueço tudo isso e a minha única preocupação és tu, saber como estás.
Porque tu és mais importante para mim do que eu mesma, e sempre o serás, e qualquer coisa que eu sinta nunca será mais importante do que qualquer sentimento teu.